quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Uma Última Tacinha - por Elmo Dias


Uma Última Tacinha - por Elmo Dias

A vida toda tinha sido assim.
Não me surpreendia que, depois de quase um ano, eu encontrasse aquele envelope no bolso do meu sobretudo mais velho e marcado.
Um envelope de papel cartão, curto, retangular, rude.
Na face do envelope, a letra marcada, feia e direta de meu pai.
Sempre fora assim, a vida dele havia sido assim.
Sem rodeios, mas sempre com conteúdo.
Era início da noite, lusco-fusco no céu do sul, janela aberta, vento gelado no rosto. Tremi.
A adrenalina, a culpa, o remorso sem nexo, tudo me invadiu.
Sentei no baú dos cobertores, no pé da cama.
Vagarosamente, sem pressa, sem coragem, peito pressionado, puxei a folha de papel de dentro do envelope.
As letras fundas e pequenas sussurraram a voz tão conhecida.

“Filho, com as botas sujas daquela terra salpicada de pedrinhas brancas, só pude me lembrar de você. O único do meu sangue que suportou minha falsa verve de conhecedor. Te deixo um litro e meio da tua paixão. Te amo. Seu pai, Paolo.”

No verso da folha, um desenho de traço infantil, apontando o terceiro degrau da escada da casa onde eu havia crescido.
Jantei com os olhos fixos e com a ansiedade embrulhada dentro do estômago.
Os sons da minha casa, mulher, filha, televisão, devagar foram morrendo.
A noite comeu a cidade, e tudo o que se ouvia era o som da chuva nas folhas da palmeira do jardim.
Duas da manhã, liguei o carro e fiquei estático, sozinho dentro dele, durante minutos a fio, me enfrentando, pensando se eu já era homem pra aquilo tudo.
O vidro embaçava, o pulso pulava.
Deixei que a infância empurrasse o acelerador.
Depois de alguns quilômetros vendo as luzes da cidade perderem a forma no vidro molhado, desci do carro, enfiei o rosto nas golas do sobretudo me protegendo do frio e caminhei pela calçada rachada da casa velha.
A chave rodou no tambor da fechadura, a porta gemeu, acendi a luz solitária.
Revelaram-se os contornos e a herança afetiva do moleque.
Sentei no terceiro degrau da escada, a tábua pesada de madeira escura.
A única parafusada.
Fucei as gavetas da despensa, achei a chave de fenda com o cabo já bem gasto.
Desparafusei a madeira com tanto e ao mesmo tão pouco esforço, tentando entender se o rangido era da madeira ou da minha alma.
Puxei o degrau, encarou-me uma caixa de metal velha, poeira lhe dando a cor.
Eu havia me fascinado a vida toda com rótulos, safras, produtores.
História do vinho, ícones, harmonizações.
Leilões, encontros, ostentações.
Naquele momento, contudo, a única estampa que queria ver na garrafa era o sorriso debochado de meu pai, mais uma vez.
O velho sarcasmo, o amor enrustido.
O abraço tímido, o beijo raro, os olhos crus, como nenhum outro par de olhos.
Passei a mão pelo pescoço, pra desfazer o nó dentro dele.
Meus cabelos grisalhos estapeavam minha consciência, me gritando que nenhum gole de qualquer vinho valia o que eu queria de novo.
Nenhuma safra, nenhuma garrafa, nenhum vinhedo cobria o preço.
Mãos sujas de pó, ergui a garrafa, limpei com a manga do sobretudo.
O vidro escuro trazia uma peça de papel rústico, sem desenhos, sem marca, quase sem personalidade.
No pé do rótulo, contudo, letras de tinta escura, até borrada em alguns trechos. A frase sentenciava o fato, a compra no dia do meu aniversário.

“February fifteen, 1992, direct from the oak. Opus One Winery.”

Coloquei a garrafa no colo, olhei as paredes e a tinta puída que se segurava nelas.
Vi o gurizito correndo pela casa, sempre aos gritos da mãe, pedindo cuidado com a cristaleira, os vasos, os quadros, os espelhos.
Na saleta, na poltrona marrom, meu pai sempre acarinhava os próprios pés no tapete persa horroroso, lendo seu livro, taça ao lado.
Os filhos alvoroçavam os cômodos, ruidosos, até que o pai pigarreava ao fundo.
O momento onde a bagunça congelava.
Nunca, nunca deixe o pai levantar da poltrona.
Olhei para a mesa de jantar. A fotografia do cenário dos domingos, onde ele sentava na ponta.
Nós já adultos, minha mãe servindo seu ragú com polenta.
Só duas taças de cristal na mesa, minha e dele.
“O populacho que beba em vidro” – ele sempre dizia, e sempre se divertia, sob protestos das mulheres.
Me olhou tantas vezes, a barba branca começando a ressurgir depois do barbear da manhã, olhos já um pouco baços, tirando sarro das minhas notícias do Priorato, do renascer da Argentina, dos Pinots da Nova Zelândia.
Enfiava a colher na polenta com ragú, enchia a boca e me falava ainda mastigando que vinho bom de verdade amarrava a boca.
Lembrei do Fábio Júnior pedindo pro pai sentar que o jantar estava na mesa.
Lembrei de como ele já velho saiu pra chorar sozinho quando viu minha filha no vidro da maternidade.
Lembrei do primeiro dourado que pesquei na vida, o moleque gritando ao lado dele.
Lembrei dele emburrado depois que o Brasil perdeu em 1982.
Lembrei, lembrei, lembrei...
Fiquei ali, segurando aquela garrafa, tentando imagina-lo, ele que não falava meia palavra em inglês, negociando aquela garrafa na vinícola.
Limpei o pescoço molhado das lágrimas na gola da camisa, coloquei o degrau de volta, voltei pra casa.
No outro dia, pedi pra minha esposa um ragú com polenta no domingo.
Chamei todo mundo.
Comida pronta, mesa posta e cheia, minha mulher trouxe o ragú borbulhando na panela de ferro da minha mãe.
Peguei a magnum, coloquei sobre a mesa.
Olhei meus irmãos, abri a garrafa, sorri amargurado, servi a todos.
Servi também a taça de cristal pra cadeira vazia na ponta da mesa.
Minha filhinha, vendo o vinho servido, ergueu seu copinho de guaraná e repetiu as palavras de tantos e tantos domingos:
“U pupulaxo que beba in vido”.
Bebemos.

Elmo Dias é advogado civilista, presidente da Afavep, pescador, tenista, enófilo e cronista nas horas vagas (bem vagas)

terça-feira, 29 de setembro de 2009

O Vinho e a Pintura! Leonardo da Vinci

"L´ultima Cena" (A Última Ceia) e "La Gioconda" (A Monalisa), os dois de Leonardo Da Vinci, são os quadros mais conhecidos do mundo. Um gênio reconhecido em várias áreas. Era anatomista, engenheiro, matemático, músico, naturalista, arquiteto, inventor e escultor. Nasceu em 1452 não se sabe exatamente onde, mas se sabe que foi próximo a Florença. Morreu na França em 1519.


O quadro mostra a última ceia de Cristo, no momento em que o vinho representa o sangue e o pão representa o corpo de Jesus.
 
Fonte: http://www.papodevinho.blogspot.com/

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Adega Chesini Gran Vin 2005

Este é um vinho produzido no Rio Grande do Sul pela Adega Chesini , que gentilmente nos cedeu duas amostras do seu vinho top para que pudéssemos conhecê-lo.

Assim que a garrafa chegou, não pude deixar de notar o cuidado da empresa com a apresentação do produto.

Um rótulo bonito, bem trabalhado e uma garrafa grossa.
Deixei a garrafa na adega por alguns dias mas logo encontrei uma oportunidade para degustá-lo.

O Vinho: Chesini Gran Vin

Safra: 2005

Uvas: 100% Cabernet Sauvignon

Comentários:
Na taça apresentou uma cor violeta profundo, quase negro, denso e com aura violácea.

Aromas de média intensidade que lembravam frutas vermelhas maduras, algo levemente adocicado e notas de chocolate e amêndoas.

Na boca, no primeiro gole mostrou um toque levemente cremoso, com corpo médio, taninos presentes de forma correta e uma boa acidez, criando um conjunto bem equilibrado.

Deixou na boca um delicioso retrogosto frutado e no fundo da taça restaram aromas de defumado e café.

Na minha opinião este é um ótimo exemplar de vinho nacional, que consegue provar que o Brasil tem potencial para produção de bons vinhos e só depende dos produtores encontrarem a melhor forma para chegar nesses bons resultados.

Vale a pena provar!

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Vinho e Música!



Alguns dias atrás o nosso confrade Marcelo, do blog Vinificando me convidou para participar de uma “harmonização” entre vinho e música.

A brincadeira consiste em tentar combinar um vinho sugerido com uma música de sua escolha. Achei a idéia bem interessante e como adoro as duas coisas, aceitei prontamente o convite do Marcelo para ver no que poderia resultar essa combinação.

Abaixo segue a descrição do vinho que o Marcelo me enviou e a minha música para combinar com ele. Visite também o Vinificando para ver o vinho que eu escolhi e a música que o Marcelo sugeriu.

Côtes-du-Rhône 2005 (E Guigal)


Quero apresentar, para este novo desafio enomusical, um vinho que me agrada sempre e que é, para mim, um exemplo de um feliz encontro entre tradição e inovação em Bordeaux. Refiro-me ao Tinto da E Guigal, Côtes-du-Rhône. Sob a batuta do competente Marcel Guigal, que assumiu a vinícola em 1961, após a doença de seu pai Etienne Guigal, a E Guigal vem aprimorando cada vez mais os seus vinhos mais básicos, demonstrando cuidado e atenção para oferecer ao mercado algo que seja de real qualidade, a despeito do preço.

Côtes-du-Rhône 2005, produzido com 55% Syrah, 35% Granache, 8% Mourvèdre e 2% outras, estagiou por 18 meses em barril de carvalho. No aspecto visual mostra-se com um vermelho intenso e brilhante. Boa viscosidade. O olfato é marcante, iniciando com frutas maduras, caminhando por notas florais e terminando com carne defumada e toque sutil de pimenta. Na boca (seu ponto forte), é encorpado e muito bem estruturado. Textura aveludada, seus taninos são perfeitamente domados, sem omitirem-se. O final é longo e levemente adocicado.

Eis aí um belo representante da França que, apesar de não ser uma opção propriamente barata, vale a pena ser conhecido.

Marcelo Oliveira


Como o Marcelo descreveu o vinho como sendo “um feliz encontro entre tradição e inovação”, resolvi escolher um artista que também tem sua parcela de tradição, representada pelo Rythm & Blues, mas com um grande toque de inovação, representado pelas suas “pegadas” de Rock´n Roll.

Estamos falando de Stevie Ray Vaughan, norte americano que nasceu em Dallas no dia 03 de outubro de 1954.

Stevie iniciou sua carreira tocando contra-baixo na banda do seu irmão Jimmie Vaughan, até que adquiriu experiência e resolveu formar sua própria banda, o Double Trouble.

A música escolhida é o clássico “Pride and Joy”, faixa do disco “Texas Flood” primeiro disco de Stevie Ray Vaughan & Double Trouble, lançado em 1983.

Seu estilo musical foi fortemente influenciado por nomes do blues e do rock, como Albert King, Jimi Hendrix, Freddie King e Albert Collins.
Stevie morreu em 27 de agosto de 1990, vítima de um acidente de helicóptero quando seguia para uma apresentação no Alpine Valley Music Theatre, onde na tarde anterior havia se apresentado ao lado de Robert Cray, Buddy Guy, Eric Clapton e seu irmão Jimmie Vaughan.

Stevie Ray Vaughan se foi, mas os seus clássicos como “Pride and Joy” permanecerão vivos para sempre.

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Aromas Inconfundíveis nos Tintos de Maipo e Rapel - por Ikuyo Kiyuna

Aromas inconfundíveis nos tintos do Maipo e Rapel - por Ikuyo Kiyuna

A minha grande lição, em aromas dos tintos de Maipo, foi com o vinho chileno Stella Aurea, numa degustação double blind, durante a aula de Curso Básico da ABS-SP, em 2006.

Eu acho que o professor teve pena de mim, me vendo cheirar como uma analfabeta tentando ler V – I – N - H – O, pois me disse com ar compassivo do alto da sua cátedra: “aliás, este é o aroma típico dos Cabernets do Maipo”.

Após gastar meia hora para entender, gravei no fundo da minha memória olfativa este aroma inconfundível (cassis + goiaba vermelha) que aparece até nos grandes tintos como o Seña (neste caso, aliás, como "bomba").

Depois disso, fiquei craque em "aroma de maipo", na minha gíria. Numa degustação às cegas na aula de tintos com Alexandra Corvo (foi em 2007 ou 2008?), eu comentei que o tinto era de Maipo, mas na verdade era de Rapel.

Foi a segunda lição: gravei na memória olfativa o "aroma de rapel", uma versão mais light, tipo clima temperado de Maipo (cassis + leve goiaba vermelha + herbáceo).

Com estas duas pequenas lições fundamentais, tive oportunidade de testar a minha expertise de (alguns) tintos do Chile. Numa degustação às cegas da nossa confraria - tema, o Syrah do mundo - identifiquei, entre os 10 vinhos, o Syrah do Chile.

Logo depois, teve degustação similar na ABS-SP e identifiquei de imediato o Syrah chileno. Um dos diretores, fera de degustação, comentou que nunca tinha visto um Syrah com este aroma e eu disse para mim mesma: pois eu já vi!

E finalmente, durante o ProChile (25/agosto/2009), degustando os vinhos com o mapa do Chile na mão, vi que os tintos chilenos apresentam quatro gradientes aromáticos básicos: o primeiro (vinhos do norte, perto de Atacama), o "aroma de maipo", "o aroma de rapel" e o quarto (vinhos do sul, de clima temperado). Os aromas 2 e 3 aparecem principalmente em Cabernet Sauvignon, mas em outras cepas tintas como Syrah ou Carmenère, em menor grau, mas detectável, uma vez apreendido.

Acho que este conhecimento é intransferível como uma experiência pessoal. E nem tão óbvio como foi aqui contado, pois com vinho, nunca é exato, repetível, definitivo: um mundo complexo e fascinante.

Ikuyo Kiyuna
Engenheira Agrônoma e Mestre em Economia Agrária. Detentora de Wine & Spirit Education Trust (WSET) Advanced Certificate in Wines and Spirits emitido pela Qualifications and Curriculum Authoriy de Londres.

terça-feira, 22 de setembro de 2009

O Vinho e a Pintura! Giuseppe Arcimboldo

Nesta tela chamada «Autunno» (Outono) Giuseppe Arcimboldo que nasceu na Itália, provavelmente em 1527 e morreu em 1593 (também provavelmente), as uvas representaram os cabelos, a cabeça coroada lembra antigas representações de Baco e o busto é representado por uma barrica. O início do surrealismo?
Fonte:www.papodevinho.blogspot.com

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Paso Del Sol - Sauvignon Blanc 2007


Durante a minha eterna busca por vinhos novos e diferentes, acabei encontrando o Empório Vinis, na cidade de Itatiba, onde fui atendido pela Mariana que me apresentou os vinhos produzidos pela TerraMater lá no Chile.

São vinhos bem interessantes, tanto que acabei comprando 5 garrafas variadas para provar. Aos pouco vou postar todos eles aqui no blog, começando por este branco.

O Vinho: Paso Del Sol

Safra: 2007

Uvas: 100% Sauvignon Blanc

Comentários:
Na taça mostrou uma cor palha, límpido e brilhante, com reflexos esverdeados.

No nariz surgiram aromas de boa intensidade que lembravam maçã verde e abacaxi, com notas cítricas, um toque herbáceo e com uma baunilha bem leve e bem integrada no conjunto.

Na boca tinha um corpo leve com uma acidez corretíssima, saboroso, equilibrado e com boa persistência.
A princípio mostra uma certa untuosidade, que logo é diminuída pela acidez.

Deixou no fundo da taça aromas acentuados de baunilha, revelando alguns meses de descanso em barricas.

Na minha opinião este é um vinho simples, mas mesmo assim se revelou uma ótima pedida para o dia a dia.
Vale a pena conhecer!

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Pericó Espumante Natural Brut

Este aqui é o terceiro e último vinho que adquiri da Casa Pericó e para minha alegria este rótulo também não decepcionou.

O Vinho: Espumante Natural Brut Branco

Safra: 2008

Uvas: 60% Cabernet Sauvignon e 40% Merlot

Comentários:
Na taça apresentou uma cor amarelo palha , límpido e com uma perlage fina e duradoura.

Aromas de boa persistência que lembravam maçã verde, com boas notas florais, minerais e cítricas.

Na boca tem uma boa persistência com uma boa acidez e um toque levemente adocicado e bem equilibrado.

Na minha opinião este é um ótimo espumante, elegante e equilibrado.
Boa indicação de aquipe de vendas da Casa Pericó.
Vale a pena provar!

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Gentilezas Enofílicas - por Elmo Dias

Gentilezas Enofílicas - por Elmo Dias

- Pára com isso, Juarez, você já cheirou esse vinho umas dez vezes!!

- Ô casca de ferida que você é, Gonçalo. Me deixa quieto, rapá! O vinho tá evoluindo na taça!

- Cuméquíé ? Tá de darwinismo com esse seu suco de uva sem vergonha agora?

- Ah meu sapato velho… eu sabia que deveria ter bebido cerveja com vocês…

- Você vai é arranjar uma lééerr das boas, ou virar baitola girando esse copo com a munheca tantas vezes…

- Ô mastodonte, bebe essa tua Budweiser miserenta aí e me deixa em paz!!

- Bota um pouco desse vinho aqui no meu copo, quero ver se esse troço é bom mesmo!

- Nem a pau! Acha que vou colocar meu Lagarde Guarda nesse copo babado e com cheiro de cerveja?

- Tá bom, peraí, eu vou beber a espuminha que tá no fundo…

- Nem vem, vai ficar esse cheiro de cevada fermentada misturado com o bouquet do meu vinho, vai pegar do Almaden que tá lá no buffet.

- Deixa de ser boiola, bota um pouco aqui que quero ver se esse troço é bom ou confirmar se você anda mesmo a biba que acho que você é.

- Gonçalo, tu já tomou umas dez latinhas de cerveja, tá pertinho de começar a querer agarrar até a minha sogra na festa, não vou te dar do meu vinho não!

- Tá bom, tá bom. Eu sigo suas regrinhas gayzolas… me diz aí o que faço.

- Não vou te dar vinho, você não vai gostar, já tá tomando até cerveja quente!

- Vai, não enche o saco, diz aí, o que quer que eu faça!

- Saco, viu. Pega uma taça ali na cristaleira.

(Volta com uma taça de martini)

- Não, jumento, Uma taça igual a essa que estou usando!

(Volta com uma bordeaux)

- Tá, agora toma um pouco de água. Dá uma bochechada, sei lá, limpa essa língua.

- Mas que cara chato! Quero vinho, não quero fazer higiene bucal!

- Ô animar! Não é pra usar Listerine! Dá só um golinho pra tirar o gosto de cerveja da boca!

(Toma um golinho mínimo, engole direto)

- Ô lesado, bochecha um pouco antes pra limpar as papilas da língua!

- Escuta, isso é consulta de dentista ou “degustação”, como vc vive falando?

- Ok, esquece. Não vou mais te dar vinho.

- Tá, tá, eu bochecho…

(Toma um gole grande, bochecha e em seguida começa a gargarejar)

- Hahaha… ô seu mamado! Você vai beber vinho, e não pra cama dormir!

(Gonçalo se molha inteiro e quase se afoga porque estava gargarejando de boca pra cima quando caiu na risada)

- Vai, coloca esse trubisco aí na taça de uma vez!

- Trubisco é a vovó! Esse é um Lagarde Guarda 2002, que comprei direto na Weinert antes de sair pro mercado!

- Nhenhenhé, agora vai começar com a nomarada estrangeira de sempre. Não quero saber se comprou do Chucrutz ou do Eisbein, quero ver que gosto tem esse troço!

(Juarez serve um dedo de vinho no fundo da taça)

- Deixa de ser regulão!! Enche essa taça, seu munheca!

- Nessa taça cabe 700 ml de vinho, sua anta. Queria beber, agora faz como eu digo, deixa de ser tosco!

(Gonçalo dá uma risada mole de bêbado risonho)

- Primeiro, não pega na taça assim! Vai esquentar o vinho!

- Mas que cara mais chato! Que diferença vai fazer se ficar um pouco mais quente?

- Já tá a 17 graus, você vai piorar o vinho!

- Tá, tá.

- Segura pela haste, assim…

(Juarez ergue a taça, Gonçalo segura só com dois dedinhos e faz uma expressão efeminada, virando os olhos pra cima)

- Aiai… agora, pra não derramar vinho pra todo lado no estado que você está, coloca o vinho na mesa, assim, firma o pé da taça, e gira, assim.

(Gonçalo fica movendo a taça pra frente e pra trás ao invés de girar)

- Ô malaco, ASSIM! (Juarez gira a taça com força)

Gonçalo dá outra risada debochada e gira direitinho.

- Tá, agora ergue a taça e coloca o nariz dentro dela, e respira fundo.

(Gonçalo ergue a taça, enfia o nariz mas inclina demais a taça, e enche o nariz de vinho, se afogando inteiro)

- Hahaha… ô besta quadrada! É pra cheirar o vinho, não tomar pelo nariz!!

Gonçalo limpa o rosto e, meio indignado, aspira direito dessa vez.

- E daí, me diz o que sente de cheiro!

- Ué, tem cheiro de uva, caramba!

- Ai meu Santo Onofre, tem tudo aí, menos uva!

- Tá bom, então tem cheiro de vinho.

- Humm… melhor. Que mais?

- Sei lá… um cheiro meio doce…

- Isso… fruta em compota…

- Hahaha… que mané fruta em compota, como é que você vai definir que tem cheiro de fruta, e ainda mais fruta em compota!

- Me dá essa taça aqui de volta!!

- Tá bom, tá bom! Calma pilombeta! Vai dizendo aí que outros “aromas”tenho que sentir.

- Tem cheiro defumado também, um pouco mais fraco.

(Gonçalo fecha os olhos e cheira concentrado…)

- Humm… e não é que tem mesmo! Meio que um cheiro de paio…

- Ok, ok. Que seja. Também tem um cheiro de caixa de charuto…

- Ô minina formosa, como assim? Caixa de charuto ou charuto?

- Não, da caixa mesmo, da madeira que pegou o cheiro do tabaco!

- Pronto, daqui a pouco vai dizer que também tem o cheiro do pote da geléia, e não de geléia…

- Gonçalo, cheiro de caixa de charuto é comum!

- Só se for na gaveta daquela tua escrivaninha de fresco, na tua biblioteca.

- É isso mesmo!

Gonçalo vira os olhos pra cima, desdenhando.

- Tá, isso não estou sentindo não. Você tá viajando, já bebeu demais esse troço.

- Tá, esquece. Vamos pra boca…

- Qual delas ? Lapa ou a o Cais ?

- Tuas piadinhas estão tão boas quanto teu olfato…

- Ok, vou beber.

- Peraí, não vai bebendo de qualquer jeito! Deixa a boca meio aberta, bebe um pouquinho só, e puxa ar pela boca enquanto bebe.

- Hein?

- Isso mesmo, oxigena o vinho enquanto sente o gosto!

- Cê tá doido! Vou me babar todo!

- Anda, tenta!

Gonçalo se baba todo.

- Agora pára de me encher o saco, vou beber como conheço, com a boca fechada!

Juarez ainda dando risada concorda com a cabeça.

- Hummm…

- E aí, o que achou?

- Sei lá… esse troço não é meio ácido?

- Claro que é acido, a acidez é uma característica essencial do vinho…

- Mas e aqueles docinhos da garrafa azul ?

Juarez vira os olhos pra cima.

- Aquilo nem se pode chamar de vinho, Gonçalo!

- Como assim, e o vinho de pêssego Canção? Tá escrito vinho no rótulo!

- Eu sabia que ia ser uma perda de tempo…

Naquele momento, a mulher mais gostosa da festa, nova no setor dos recursos humanos, pára em pé do lado dos dois.

Gonçalo e Juarez se olham,Gonçalo surrupia rapidinho a garrafa do Weinert, num pulo chega junto da morena de calça justa, garrafa na mão e dispara:

- Helloouu, você não é a Nina? Tava aqui pensando em de repente te oferecer um golinho de vinho, parece mais a sua cara do que essa cervejarada meio ralé que o povo té bebendo…

- Ah é - Nina dá uma risadinha - e que vinho é esse ?

- É um Weimaraner comprado direto na vinharia… coisa fina… tem aromas de frutas glaceadas na caixa… vamos ali pegar uma taça…

Passa a mão na cintura dela, pisca pro Juarez boquiaberto e vai dando risadinha enquanto ela rebola em direção da cristaleira.


Elmo Dias é advogado civilista, presidente da Afavep, pescador, tenista, enófilo e cronista nas horas vagas (bem vagas)

terça-feira, 15 de setembro de 2009

O VInho e a Pintura! Veronese

Esta obra "O Casamento de Cana" representa o milagre da transformação da água em vinho por Jesus Cristo. Paolo Veronese nasceu em Verona provavelmente em 1528 e morreu em Veneza em 1588. O nome Veronese foi incorporado por ele pelo fato de ter nascido em Verona e ser conhecido por "Il Veronese". O nome de batismo era Paolo Caliari.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Morandé Reserva Pinot Noir


Um sábado desses eu estava querendo cozinha alguma coisa e não sabia exatamente oque fazer.
Resolvi fazer um risoto de açafrão com bacon e filé de frango com limão e convidei um casal de amigos para compartilhar o momento.
Eles aceitaram prontamente o convite e trouxeram este vinho para harmonizar com o prato.

O Vinho: Morandé Reserva

Safra: 2008

Uvas: 100% Pinot Noir

Comentários:
Um vinho jovem, rubi brilhante, límpido e translúcido com aura rosada.

Apresentou aromas de média potência onde se destacaram os frutos vermelhos como morango e groselha com um leve toque de baunilha.

Na boca mostrou um corpo leve com taninos macios e pouca acidez, que resultaram em um vinho bem equilibrado e suave.

No fundo de taça deixou um aroma de frutas em compota.
A escolha não poderia ter sido melhor, harmonizou perfeitamente com o prato.

Na minha opinião este é um ótimo exemplo de pinot noir do novo mundo, macio e saboroso na boca com um ótimo custo x beneficio.
Vale a pena provar.

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Pericó - Taipa

Um tempo atrás adquiri 3 rótulos da Casa Pericó para provar.


Este aqui foi o segundo vinho que abri e também não deixou nada a desejar.

O primeiro ponto que devemos considerar sobre esse vinho pode ser visto na foto ao lado.Uma garrafa e um rótulo muito bem trabalhados, dando um toque refinado ao produto final.

O segundo ponto vem logo abaixo, o vinho propriamente dito
O Vinho: Taipa
Safra: 2008
Uvas: Cabernet Sauvignon e Merlot

Comentários:

Na taça apresentou uma cor salmão claro, translúcido e brilhante, praticamente com a mesma cor dos famosos Rosés de Provence.
Aromas leves que lembravam frutas frescas como morangos, cerejas, notas florais, com um toque de baunilha, amêndoas e defumado, revelando sua breve passagem por barricas de carvalho francês.
Na boca mostrou um corpo leve com um leve ataque dos taninos e pouca acidez, que deixaram o vinho muito elegante, saboroso e equilibrado.
Deixou na boca um delicioso retrogosto frutado, novamente lembrando muito um rosé de provence.
Quem estiver interessado em provar esse vinho é só entrar em contato com o setor de vendas da Casa Pericó e adquirir suas garrafas. Vale a pena provar!

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Vinhos e seus Aromas: (Quase) Tudo menos Uva - por André Logaldi

Vinhos & Seus Aromas: (Quase) Tudo Menos Uva - por André Logaldi

 
É inevitável que os enófilos curiosos queiram saber por que se pode achar tantos aromas de frutas e outras coisas numa taça de vinho, feito de uva. A equação não fecha de modo intuitivo, é preciso estudar! Bem, e daí?

Daí que a mágica se chama fermentação, mas a “bruxaria” já começa na natureza, na videira, rica em precursores aromáticos, substâncias que possuem poder de atração sobre os insetos, para que estes veiculem o pólen das flores permitindo a reprodução da planta, que é hermafrodita. Uma vez que os bagos são a evolução de flores fecundadas, então eles carregam consigo estes precursores e a fase final do “ritual” é a fermentação alcoólica (e a malolática) que fará com que através de reações químicas incessantes, algumas dezenas de precursores se transformem em centenas de compostos de poder estimulante do olfato.

Exemplo: alguns álcoois se transformam em ésteres ou aldeídos que em geral, tem poder odorante muito maior. Estas moléculas odorantes nos remete a outros elementos da natureza porque toda esta química natural existe em todos os seus componentes. Assim, banana tem este nome por uma categorização que os humanos criaram para diferenciá-la de outros frutos. Nós chamamos de banana aquela fruta de formato típico que o macaco come, mas na natureza ela é um fruto que é mais rico em acetato de isoamila do que outros odorantes. Tudo o que tiver este composto vai cheirar a banana. E não será a única fruta do mundo a possuir este composto. O que varia de uma espécie a outra, é a concentração percentual.

Em testes de laboratório, como na cromatografia, é possível identificar as moléculas presentes nos vinhos e assim, vemos que um mesmo vinho pode conter quantidades maiores ou menores de digamos, benzaldeído. Esta substância diluída em um meio ácido e rico em álcool como é o vinho, pode ter sua capacidade odorante amplificada e benzaldeído cheira a cerejas, mirtilos, pêssegos, ameixas entre outros. Desta forma um vinho rico nesse composto pode fazer com que quatro degustadores diferentes cite cada uma destas frutas diferentes, cada um puxado de acordo com sua memória olfativa.

Tendemos a acreditar que a natureza é aquilo que fazemos dela, como a classificamos ou categorizamos. Mas ela é muito mais do que isso, muito mais complexa e interligada do que parece. Nós, devemos ter a humildade de saber reconhecer que criamos estas classificações para não mais que mascarar nossas limitações. Mas enfim, isso serve como um conforto pois a mágica do aprendizado se renova ao longo da vida, basta que não sejamos insensíveis à este chamado da natureza!

 
André Logaldi é médico cardiologista, enófilo, diretor de degustação da ABS-SP, colaborador da revista Wine Style, revisor técnico de livros sobre vinhos.



terça-feira, 8 de setembro de 2009

O Vinho e a Pintura! Juan de Juanes

Quando se fala em última Ceia, se pensa logo em Leonardo Da Vinci, mas diversos pintores retrataram o momento da Eucaristia. Esta bela obra é de Juan de Juanes ou Joan de Joanes, pintado em 1550.


Juan de Juanes nasceu em Valencia (Espanha) em 1523 e morreu em Bocairente (Espanha) em 1579. Está esposta no Museu do Prado, em Madrid.

Fonte: http://www.papodevinho.blogspot.com/

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Courmayeur Reserva Merlot

Em uma de minhas buscas por boas vinícolas brasileiras, encontrei a vinícola Courmayeur, uma vinícola com sede na cidade de Garibaldi e que atualmente produz diversos rótulos entre brancos, tintos e espumantes.

Após alguns contatos com o setor de vendas, acabei comprando uma caixa com 6 vinhos diferentes e logo que chegaram tratei de abrir um deles para provar.

O Vinho: Courmayeur Reserva

Safra: 2008

Uvas: 100% Merlot

Comentários:
Na taça mostrou uma bonita cor violeta, levemente translúcido, brilhante e com aura violácea.

Apresentou aromas de media potência que lembravam frutas frescas com toques de baunilha, hortelã e amêndoas.
No nariz o álcool e a madeira estavam bem integrados ao conjunto.

Na boca tem um corpo médio, uma acidez correta e taninos suaves, que deixaram o vinho bem harmonioso e macio.

Deixou na boca um leve amargor que não chegou a incomodar.

No fundo de taça restaram aromas frutados com um toque de defumado.

Na minha opinião esta é uma ótima opção de vinho para o dia a dia.
Aqui em casa harmonizou bem com o "bom e velho" filé com fritas.
Se você tiver a oportunidade, vale a pena conhecer.

domingo, 6 de setembro de 2009

Mais novidades no O Tanino!

Amigos,

começamos o mês com algumas novidades!

Apesar de perder o post do Palo Alto, o vinho do mes da Confraria Brasileira de Enoblogs, já tenho comigo o vinho de outubro, então esse não passará em branco.

Outra novidade foi um pequena alteração no logotipo do blog, retirando alguns efeitos de photoshop, achei que ficou um pouco mais clean. Ainda tenho mais algumas coisas que gostaria de alterar nele, mas por enquanto acho que ficou bacana.

A terceira e última novidade é uma parceria com o blog Papo de Vinho, do nosso amigo Beto Duarte, que autorizou que eu copiasse aqui para O Tanino seus posts "Vinho e Pintura!" , que particularmente considero uma visão muito interessante do mundo de baco inserido em grandes obras de arte.

Bom, por enquanto é isso que está acontecendo por aqui.

Um grande abraço e agradeço a acessam O Tanino e me incentivam a continuar buscando melhorias.

Jean
http://www.otanino.blogspot.com/

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Pericó Espumante Natural Brut Rosé

Particularmente já ouvi muita gente falar bem dos espumantes da Casa Pericó e como surgiu uma oportunidade, resolvi adquirir 3 rótulos para provar.


Inclusive, neste ano de 2009 este espumante ganhou uma medalha de ouro no VI Concurso do Espumante Brasileiro e o pessoal até me enviou uma foto da medalha propriamente dita.


Sem muita enrolação, vamos ao vinho!

O Vinho: Espumante Natural Brut Rosé

Safra: 2008

Uvas: 60% Cabernet Sauvignon e 40% Merlot

Comentários:

Na taça apresentou uma cor salmão levemente escuro, translúcido e límpido, com uma perlage fina e constante.

Logo de cara apareceram aromas de boa persistência que lembravam cerejas e morangos com um toque floral e bem refrescante.

Na boca é suave e agradável, sem amargor final e com uma boa acidez que deixou o vinho bem harmonioso. Após cada gole a boca ficava salivando, pedindo por mais vinho.

 Confirmando tudo que havia sido dito sobre este vinho, este é um ótimo espumante que fez por merecer a sua medalha de ouro.
 Quem estiver interessado em provar esse vinho é só mandar um e-mail para os vendedores da Casa Pericó e adquirir suas garrafas. Vale a pena provar!

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Amarone Della Valpolicella DOC


Em comemoração ao aniversário de 1 ano do O Tanino, resolvi “tirar as correntes” da minha adega e sacar lá de dentro um vinho de qualidade superior, algo digno de uma comemoração.

Depois de muito relutar, decidi por este Amarone produzido por Boscaini Carlo.

Se muita enrolação, vamos ao que interessa.

O Vinho: Amarone Della Valpolicella Clássico DOC S. Giorgio

Safra: 2004

Uvas: 50% Corvina, 35% Corvinone, 10% Rondinella, 5% Croatina & Dindarella

Comentários:
No site do produtor consta a informação de que foram produzidas apenas 3500 garrafas nesta safra e o vinho fica envelhecendo por 18 meses em tonéis de carvalho eslovaco.

Ao servir a taça, apresentou um vermelho rubi com aura alaranjada, levemente translucido.

Logo em seguida apareceram aromas leves e refrescantes que lembravam frutas vermelhas frescas com um toque de couro e mentolado.

Na boca foi onde este vinho mais me surpreendeu.
Corpo médio a encorpado.
No primeiro gole pareceu quente, revelando os seus 15,5% de álcool.
Mostrou taninos bem macios, uma boa acidez que não atrapalha em nada e um toque adocicado que contrasta com um final de boca levemente amargo
Uma longa persistência completa o conjunto.
E apesar de tudo isso, estava equilibrado. E muito.

Este vinho tem presença, bem marcante. Tudo nele é grandioso mas sem perder a harmonia
Ao meu ver é o tipo de vinho que pode ser chamado de “vinho de meditação”. Você serve uma taça e fica várias horas apreciando.

Vale a pena provar!