quinta-feira, 30 de julho de 2009

Meu Encontro com Robert Parker - por Elmo Dias

Meu Encontro com Robert Parker - por Elmo Dias

Ontem encontrei o Parker no aeroporto. Quando o reconheci, na minha cabeça se formularam imediatamente umas 50 questões básicas sobre vinhos. Queria chegar no cara já perguntando se ele tá de mal com Margaux, ou se ele e o Rolland tão juntos ou só tão ficando.

Claro, comecei instintivamente a andar na direção dele. Ele tava sentado tomando um café. Achei esquisito ele não cheirar o café cada vez que o levava à boca, mas pensei: tá certo, todo mundo merece uma pausa.

O diabinho na minha cabeça já disparou uma ao contrário. "Se ele merece uma pausa, eu é que não vou dar."

Como estava no aeroporto de Porto Alegre, corri na loja de vinhos gaúchos, entrei tão esbaforido que achei ter visto a atendente levantar os braços achando que era um assalto. Sorri amarelo e passei os olhos pelas prateleiras, achando o Merlot Terroir 2005 na prateleira. Ufa.

Paguei os absurdos 75 reais pedidos, tirei o canivete da bolsa, fui tirando a folhinha de chumbo enquanto andava, e depois fui fazendo o malabarismo de equilibrar minha bolsa de mão, encaixar a garrafa embaixo do braço, e começar a enfiar o saca rolhas marca Victorinox no gargalo. Tava vendo a hora que ia inundar o saguão de vinho da Miolo.

Quando olhei o cabelo ralo dele de costas na banqueta do cafezinho, vi que ele estava se levantando. Cacilda, onde tem um decanter nessa choupana de aeroporto?

Recuperando um pouco os sentidos, lembrando que tinha dado meus "89 plus" pro Terroir, consegui arrancar a rolha, respinguei minha calça de vinho. Só quando estava a 4 metros do cara comecei a bolar a frase do "aproach."

Passei pela mulher do escovão, e já estava abrindo a boca pra falar "Rélôu míster Parker" quando o braço que segurava o vinho foi puxado, fazendo com que a garrafa escapasse do contato com minhas costelas e se espatifasse no chão de granito.

Virei e dei de cara com o segurança do aeroporto me olhando com cara de reprovação, mas antes de falarmos qualquer coisa, o Parker olhou bem pra mim, agachou-se, e ao lado do rótulo todo esbodegado de frisos vermelhos, em meio a uns cacos, passou dois dedos na poça de vinho, deu uma cheirada, e lambeu o líquido.

"Nice Merlot. 86 plus".

A moça do escovão começou a perfumar o algodão cru da vassoura com o vinho da Miolo, enquanto o segurança falava algo no rádio ainda segurando meu braço.

Parker safado, baixou 3 pontos minha nota pessoal. Na próxima eu ataco de Villa Francioni.

Elmo Dias é advogado civilista, presidente da Afavep, pescador, tenista, enófilo e cronista nas horas vagas (bem vagas)

3 comentários:

Zainer Araujo disse...

auuhahuaha Fantastico !!!! Mas nao liga pra nota nao Elmo leve em conta as condicoes em que foi degustado. O vinho nao foi nem decantado e nem Parkerizado !!

Ramon Nogueira disse...

Huahuahua, muito bom, Elmo.

Cristiano Orlandi disse...

Espetacular!!!