quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Aromas Inconfundíveis nos Tintos de Maipo e Rapel - por Ikuyo Kiyuna

Aromas inconfundíveis nos tintos do Maipo e Rapel - por Ikuyo Kiyuna

A minha grande lição, em aromas dos tintos de Maipo, foi com o vinho chileno Stella Aurea, numa degustação double blind, durante a aula de Curso Básico da ABS-SP, em 2006.

Eu acho que o professor teve pena de mim, me vendo cheirar como uma analfabeta tentando ler V – I – N - H – O, pois me disse com ar compassivo do alto da sua cátedra: “aliás, este é o aroma típico dos Cabernets do Maipo”.

Após gastar meia hora para entender, gravei no fundo da minha memória olfativa este aroma inconfundível (cassis + goiaba vermelha) que aparece até nos grandes tintos como o Seña (neste caso, aliás, como "bomba").

Depois disso, fiquei craque em "aroma de maipo", na minha gíria. Numa degustação às cegas na aula de tintos com Alexandra Corvo (foi em 2007 ou 2008?), eu comentei que o tinto era de Maipo, mas na verdade era de Rapel.

Foi a segunda lição: gravei na memória olfativa o "aroma de rapel", uma versão mais light, tipo clima temperado de Maipo (cassis + leve goiaba vermelha + herbáceo).

Com estas duas pequenas lições fundamentais, tive oportunidade de testar a minha expertise de (alguns) tintos do Chile. Numa degustação às cegas da nossa confraria - tema, o Syrah do mundo - identifiquei, entre os 10 vinhos, o Syrah do Chile.

Logo depois, teve degustação similar na ABS-SP e identifiquei de imediato o Syrah chileno. Um dos diretores, fera de degustação, comentou que nunca tinha visto um Syrah com este aroma e eu disse para mim mesma: pois eu já vi!

E finalmente, durante o ProChile (25/agosto/2009), degustando os vinhos com o mapa do Chile na mão, vi que os tintos chilenos apresentam quatro gradientes aromáticos básicos: o primeiro (vinhos do norte, perto de Atacama), o "aroma de maipo", "o aroma de rapel" e o quarto (vinhos do sul, de clima temperado). Os aromas 2 e 3 aparecem principalmente em Cabernet Sauvignon, mas em outras cepas tintas como Syrah ou Carmenère, em menor grau, mas detectável, uma vez apreendido.

Acho que este conhecimento é intransferível como uma experiência pessoal. E nem tão óbvio como foi aqui contado, pois com vinho, nunca é exato, repetível, definitivo: um mundo complexo e fascinante.

Ikuyo Kiyuna
Engenheira Agrônoma e Mestre em Economia Agrária. Detentora de Wine & Spirit Education Trust (WSET) Advanced Certificate in Wines and Spirits emitido pela Qualifications and Curriculum Authoriy de Londres.

3 comentários:

Breno Raigorodsky disse...

Viva o Maipo e seus aromas! talvez por isso metade das pessoas do mundo adoram os vinhos chilenos, com seu forte aroma, assim como a outra metade detesta.

André Logaldi disse...

Concordo com sua colocação Breno e eu tendo para a segunda metade, mas claro, sem jamais partir do pressuposto que não beberei ótimos vinhos chilenos, o que seria uma estupidez minha. Mas não são de modo geral, os que me interessam mais. Mas a "obrigação" de fazer algo que todos gostem é o maior erro de alguém que ganha a vida fazendo vinhos, justamente porque ele perderá autenticidade e ganhará a paupérrima uniformidade industrial dos vinhos feitos em larga escala. Por isso, estou feliz que os chilenos tenham este traço bastante distinto, que eu não gosto, mas lhes rendem ao menos, uma identidade.

Breno Raigorodsky disse...

Pois é, André, permito-me contar uma historinha rápida - entrei em contato com um francês que mora no Chile há décadas e produz um vinho de garagem, apenas com madeira de quarto uso. A vinícola é a Clos Ouvert (muito bem humorado. Pois bem ,seu proprietário e vinhateiro me mandou um vinho para experimentar. Disse a ele que era muitíssimo bem feito, mas que atendia principalmente a famosa Doença de Parker, com seu sweet attack etc. e tal. Ele passou um ano sem falar comigo, até mandar uma outra garrafa, dizendo "vc tinha razão, veja se agora escapo da tal doença e me deixam entrar na França com o meu vinho" E não é que era bom?
De quebra sugiro uns vinhos de corte, os da Casa Marin, os Matetic, principalmente o Pinot Noir (não vá atrás da midia que prefere o shiraz)
Abraços Ikuyo e boa sorte!