quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Adega Chesini Gran Vin - por André Logaldi


Este é um vinho produzido no Rio Grande do Sul pela Adega Chesini (http://www.adegachesini.com.br/ ), que gentilmente nos cedeu duas amostras do seu vinho top para que pudéssemos conhecê-lo.

Seguem abaixo os comentários do André sobre ele.

Um vinho de coloração intensa, ainda muito jovem no aspecto visual, rubi violáceo concentrado, lágrimas fartas que tingem as bordas da taça.

No exame olfativo, de intensidade média, predominam aromas de frutas maduras (escuras), algo de especiarias e notas empireumáticas leves, mais próximas de tons lácteos do que tostados, nuances de chocolate e ervas secas.

Na boca, deveria se esperar um vinho tão concentrado quanto na cor, mas tem uma estrutura relativamente leve, corpo leve-médio, média acidez, o álcool de impressionantes 14%, sobra um pouco. Estrutura tânica também de média intensidade, textura agradável, de ataque macio e leve secura final. Deixa um retrogosto de frutas maduras e tem uma persistência curta-média.

O vinho passa em maturação em barricas de carvalho, mas sem menção do tempo, inclusive no site da empresa, de Farroupilha.

O vinho não tem estrutura suficiente para suportar longa guarda, provavelmente não mais do que 6 anos, embora a análise de uma única garrafa não seja um parecer definitivo.

Em linhas gerais, se mostra muito rico em cor, razoável complexidade olfativa e estrutura de boca marcada por leve desequilíbrio alcoólico e falta de melhor expressão de fruta, acidez e taninos. Minha descrição não dever ser tomada como um indicador de falha, sobretudo na acidez, que muitas vezes pode se mostrar correta ao verificarmos o pH, mas no equilíbriop geral o álcool saliente pode causar esta impressão de acidez, não necessariamente baixa, mas insuficiente.

Não tenho dados técnicos para tentar decifrar os eventuais méritos ou falhas de vinificação, se o álcool atingido foi por meio de chaptalização ou não.

O vinho tem uma boa apresentação geral, com uma bela garrafa, capricho no rótulo e na rolha. Não tenho o preço, mas dependendo do valor pode ser uma boa opção de mercado.

Aproveitei para analisá-lo sob a ótica gastronômica e ele se mostra um vinho agradável e apto para harmonizações com pratos de peso mediano e alguma untuosidade até (o que pode indicar que a acidez não é tão baixa, mas o álcool que é mesmo muito).

Se alguém ficar curioso com relação à uma nota, a minha seria 83-84.
Num resumo final, o vinho me parece no limite das possibilidades da casta em território brasileiro, que gera vinhos que não devem e nem podem ser muito melhores do que este. Me parece que os cuidados de vinificação foram adequados, com as limitações relacionadas antes à casta e ao terroir do que propriamente do trabalho do enólogo.

Não os conhecia e acho que vale a pena prestar atenção à família Chesini daqui para diante. A tendência natural deve ser melhorar.

Este vinho me lembra muito alguns vinhos espanhóis do tipo “Joven” ou “Roble” com breve passagem em barricas e justamente como este exemplar nacional, ricos e concentrados em cor, madeira discreta e paladar de média intensidade, frutados porém faltando uma estrutura mais sólida. Se a intenção deste vinho for relativamente modesta, ele pode ser considerado um ótimo vinho, mas se a idéia é ou foi fazer um vinho premium, ele deixa a desejar, repito: não por descuido, mas pelas limitações de terroir.

Sem dúvida é uma empresa séria e confiável. Erros e acertos são inerentes ao desejo e continuidade do trabalho.

André Logaldi é médico cardiologista, enófilo, diretor de degustação da ABS-SP, colaborador da revista Wine Style, revisor técnico de livros sobre vinhos.

3 comentários:

Carlos Sousa disse...

Queria fazer um comentário: A guarda de um vinho não é determinada pelo tempo de estágio em barricas. Muitos produtores, principalmente os grandes, nem adotam este acessório. Trabalham apenas com pranchas e chips (em vinícolas chilenas é muito comum este tipo de artifício). E é impossível identificar o tempo de barrica no qual o vinho foi armazenado. Pode ser um truque, ou não, utilizado pelo produtor para chamar a atenção de clientes.

André Logaldi disse...

Carlos, isso é uma verdade parcial, pois um vinho de longa guarda tem de nascer com esta aptidão desde o vinhedo, pois tem de ter estrutura, aliás sem a qual nem poderia passar por barricas novas de carvalho. Vinhos que não tenham estrutura tânica de boa qualidade, maceração suficientemente longa (sem entrar no "over-extracting")e muita fruta (excelente maturação) não se beneficiam com a madeira. Assim a passagem longa em madeira, pressupõe que o vinho tenha estrutura para tal, desde que não seja desequilibrado, o que denunciaria o deslize técnico e de certa forma "filosófico" do autor. Já os vinhos que passam por chips ou outros artefatos, costumam ter uma estrutura compatível,ou seja, pouca e digna de vinhos relativamentre baratos, pois o uso da madeira custa muito caro. A madeira em vinhos com chips tendem a ser mesmo difíceis de diferenciar até certo ponto. Em geral, dá pra notar uma nítida falta de integração dos componentes, embora nem sempre. Mas a estrutura geral não dá para maquiar, todos percebem. Então para terminar, supor que a guarda de um vinho tenha a ver com as barricas é uma verdade sim, porém somente uma ponte de ligação que fazemos por "pressupor" que o enólogo foi coerente e aplicou a técnica em vinhos que preencham o requisito mínimo para que suportem com equilíbrio e elegância esta passagem pelo carvalho. Idealmente eu deveria dizer que a base para a longevidade está determinada pela espinha dorsal do vinho que já vem determinada pela qualidade das uvas utilizadas.

Anônimo disse...

Degustei este vinho há poucos meses, no ano de 2014, e estava ótimo, e já tem nove anos. Acho que o Carlos tem razão, descordo de ti André, mesmo entendendo teus argumentos. Aliás, em conversa com o produtor e ele disse que este vinho não passou por carvalho. Parabéns pelo blog, André. Abraço e saúde.