sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Marco Luigi Tributo Prosecco


Nossos amigos da Vinícola Marco Luigi foram extremamente gentis e atenciosos em me ceder algumas amostras dos seus vinhos para provar.

O primeiro que abri foi este prosecco, produzido com uvas cultivadas em vinhedos próprios no sul do país.

O Vinho: Marco Luigi Tributo Espumante Natural Brut - Prosecco

Safra: Não encontrei indicação

Uvas: Chardonnay e Pinot Noir

Comentários:
Uma cor muito bonita, amarelo palha com reflexos esverdeados, com perlage fina e constante.

Aromas refrescantes, persistentes e levemente adocicados que lembravam pêssegos em calda e maçã verde, com toques cítricos e florais.

Na boca é refrescante, com um corpo leve, uma boa acidez e uma boa persistência. A perlage é persistente e proporciona umas leves “picadas” na língua, que deixam a boca salivando depois de cada gole.
Sem nenhum toque de amargor final, tem um conjunto bem equilibrado.

Para o meu paladar este é um ótimo espumante que agrada todo tipo de pessoa, desde a mais experiente, até as pessoas que não tem muita experiência com vinhos finos, mas gosta de apreciar um bom espumante.

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

A Última Safra - por Elmo Dias

A Última Safra - por Elmo Dias

Espedito descobriu que estava morrendo.

Não estava morrendo como todos nós, que a cada dia vivendo conta um dia morrendo.

Estava morrendo mesmo, rápido, daqui a pouco, insustentável leveza do ser.

Seu médico era o estereótipo do médico dos anos 60.

Um cara magro mas nada atlético, sempre asseado, cabelos brancos ainda volumosos, sempre arrumados, mesa limpa, óculos discretos.

A confiabilidade, o acolhimento e empatia do médico não ajudavam em nada agora.

Estava morrendo.

- “Mas... quanto tempo ?”

O médico, constrangido pela antiga quase-amizade, respondeu com a inexatidão inerente às carcaças humanas: “Dois meses, seis meses, um ano no máximo.”

Espedito nem se despediu da secretária, estava em transe.

O transe maldito, pesado, sombrio, onde todos os sons e imagens do momento presente parecem ser abafados por uma explosão que acabou de acontecer.

Sentou no carro e ficou esperando o choro.

Nada.

O choro também havia sido consumido pelo estarrecimento.

Sentou no banco do carro, abaixou a cabeça, ficou olhando para suas mãos.

A mesma cor, o dedo anular com a mesma cicatriz do tempo de exército, as mesmas unhas curtas e largas.

Baixou o pára-sol, ficou analisando no espelhinho suas rugas e suas pintas de maturidade na pele branca.

Não estava morrendo!

Estava tudo igual!

Os olhos ainda eram de um castanho sem graça, as sobrancelhas ainda não tinham fios brancos, o nariz largo e sólido.

Dirigiu até em casa, sem rádio e sem atenção.

Tentava organizar os pensamentos, tentava antecipar as conversas, tentava planejar seus últimos dias.

Seu mestrado em Mercados Emergentes já não servia pra mais nada.

Seu par de sapatos de pelica alemã já não valiam o preço.

Os trezentos mililitros de silicone que sua mulher colocara em cada seio já não eram estimulantes.

Resolveu não falar nada.

Entrou em casa, reuniu uma força hercúlea e até abriu um sorriso.

Ninguém desgrudou da tevê.

A mulher e os filhos comendo sanduíches com refrigerante e assistindo a novela indiana mal lhe disseram alô.

Ficou frustrado em desperdiçar seu sorriso falso.

Como estava no automático, ser semovente conduzido pela rotina, subiu, tirou a roupa no banheiro e jogou no chão.

Preparou o banho enquanto coçava suas partes íntimas.

Resolveu que ia cantar.

Cantar no chuveiro.

A água tépida envolveu sua pele, fluindo pelos cabelos e tomando o torso, enquanto tentava pensar no que cantar.

Desenterrou um samba velho, doído, que Nelson Gonçalves cantava com sua voz grandona.
No meio da canção, o choro veio.

Fundiu-se com a água do banho, perdeu-se no ralo.

Estava morrendo.

Ficou parado ali, depois de ter desligado o chuveiro, chorando sem expressão facial.

Pensou nas viagens, nas risadas, nos porres, nas namoradas, nos empregos.

Já de pijama e chinelos, lembrou da parreira.

Desceu as escadas, acendeu as luzes do quintal, chegou perto dos arames onde a planta se agarrava e mostrava suas folhas quase lascivas.

Os pequenos bagos, duros, tão verdes que eram nervosos.

Pegou a plaquinha amarrada no pé da vinha de cinco anos.

Passou os dedos pelas letras cavadas da madeira.

“Chateau Espê”.

Mais uma vez, puniu-se por amar o nome idiota que tinha dado a seu vinho.

Vinte e cinco metros quadrados de vinha, num terreno de quatrocentos e poucos metros quadrados num bairro nobre de Curitiba.

Criticou-se por mais aquele de seus tantos projetos que não mudariam a história.
Nem a sua e nem a da humanidade.

Lamentou-se por todas a vezes que brochou, olhos congelados nas folhas largas da Bonarda.

Desceu à adega, pegou uma caneta e um pedaço de papel jornal.

Desgovernou-se a escrever coisas.

Coisas que deixava, coisas para pessoas, carinhos para pessoas, insultos para pessoas.

Pessoas que estavam na sua vida naquele momento, todas nítidas numa fotografia de grande formato.

Olhou para seus próprios pés, sobre os ladrilhos. Cortejou as vinte e seis garrafas de sua primeira safra, ali no canto.

Empilhadas com capricho, empoeiradas.

Fundos de garrafa com poeira, garrafas de sua própria colheita, uma glória inimaginável.

Mastigou suas pretensões, pretensões de garoto senil.

Dobrou o papel, enfiou no vão do pilar de tijolos crus.

Pegou uma das garrafas, subiu a escada, colocou na mesa de jantar.

Serviu na maior taça que tinha. Cheirou.

Uva indômita, uva desavergonhada, uva, só uva.

Deu um gole áspero.

A mornidão do suco de uva ralo lhe fez rir sem vontade.

A tevê explodindo em cores e luzes contra o móvel da bancada da cozinha.

A poeira nas mãos, o vinho na taça.

Guindou-se da cadeira, foi dormir no transe espremido, na consciência opressora da efemeridade.

Estava morrendo.

Agora só queria dormir com os olhos pesados pelo álcool insolente de seu Chateau Espê.

Amanhã continuaria a morrer.

Elmo Dias é advogado civilista, presidente da Afavep, pescador, tenista, enófilo e cronista nas horas vagas (bem vagas)

terça-feira, 27 de outubro de 2009

O Vinho e a Pintura! Nicolas Poussin


Nicolas Poussin nasceu em Villers, perto de Paris em 1594 e morreu em Roma em 1665. Este quadro tem dois títulos: "O Outono" ou "O Cacho de Uvas Trazido da Terra Prometida".

Fonte: www.papodevinho.blogspot.com

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Terramater Vineyard Reserve Cabernet/Carmenére


Um tempo atrás descobri o Empório Vinis, na cidade de itatiba, onde acabei comprando algumas garrafas dos vinhos importados com exclusividade por eles.

Este aqui é o terceiro vinho que estou provando, sendo que e até agora os outros dois já me agradaram bastante..

Novamente este é um vinho da linha intermediária da Terramater, só que o primeiro era um varietal e este aqui é um corte.

O Vinho: Terramater Vineyard Reserve

Safra: 2006

Uvas: Cabernet Sauvignon e Carmenére

Comentários:
Na taça mostrou uma cor violeta profundo, brilhante e com aura na mesma tonalidade.

Os aromas eram de média potência e boa persistência, que lembravam frutas vermelhas frescas e maduras, um toque herbáceo e uma leve baunilha, proveniente do seu período de descanso em barricas de carvalho.

Na boca apresentou corpo médio com taninos bem leves e uma acidez correta.
Um vinho bem harmônico e correto.

No fundo da taça ficaram aromas frutados com notas esfumaçadas.

Particularmente, gostei mais do varietal Cabernet Sauvignon, mas mais uma vez a linha intermediária da Terramater não decepcionou. Vale a pena provar!
Agora estou curioso para provar os dois Limited Reserve que ainda tenho aqui.

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Vinhedos Emiliana Syrah 2007


Este era um daqueles vinhos que eu sempre olhava com curiosidade, mas sempre deixava pra comprar depois.

Um dia desses encontrei ele em uma promocao num supermercado próximo da minha casa e não resisti em comprá-lo.

O Vinho: Vinhedos Emiliana

Safra: 2007

Uvas: 100% Shiraz

Comentários:
Na taça apresentou uma cor violeta profundo com reflexos na mesma cor.

Aromas frutados e de média potência que lembram frutas vermelhas maduras como morango e cerejas, com um toque levemente refrescante.

Na boca foi um vinho redondo, de corpo médio, com taninos suaves e acidez correta.
Se muita complexidade em geral.

Particularmente eu não esperava muito deste vinho, mas este acabou me surpreendendo quando se mostrou um vinho simples, mas muito bom para o dia a dia, com um bom custo x beneficio mesmo considerando seu preco normal.

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

A Experiência Estética - por André Logaldi

A Experiência Estética - por André Logaldi

Dentro de minha vivência tenho inúmeras vezes me deparado com a colocação de que o ato de compreender e ser atingido emocionalmente por um objeto que contenha em si algum significado seria uma atribuição essencialmente humana, por seu fundamento de cognição, a inteligência que faltaria a outros animais.

A significação é uma expressão simbólica e abstrata que transcende o próprio objeto e implica que o observador tenha a mínima capacidade de, através de sua bagagem cultural e interpretativa, captar elementos que validem sua observação transformando esta em uma apreciação.

Também se atribui à capacidade sensorial um nível de hierarquização que acredito de modo ilegítimo, pressupõe que alguns sentidos sejam superiores a outros, os inferiores mais nos aproximando de seres irracionais. Assim, no nível inferior teríamos tato, olfato e paladar, em geral admitidos como primários e meramente ligados antes à sobrevivência do que a um plano cognitivo, nobre, ligado à inteligência e habilidade de abstração. Dentro deste plano superior, basta lembrar o título da obra de Claude Lévi-Strauss “Olhar, escutar e ler” que sublinha evidentemente a excelência dos sentidos de visão e audição como os maiores representantes da percepção estética. O que são grandes obras de arte senão objetos, arquiteturas, músicas, pinturas, esculturas, poesias e afins?

No século XXI já é notório também a evolução da gastronomia mais do que nunca elevada à categoria de ciência, provedora de múltiplas estimulações sensoriais inclusive táteis e talvez transformando pouco a pouco os sentidos de paladar e olfato em veículos de cognição. Desta maneira, se para a iconografia um quadro da Santa Ceia exigiria uma contextualização histórica de um observador, sob risco da perda de seu significado (o que um aborígene australiano diria desta obra?), agora parecemos caminhar na mesma direção quanto aos nossos sentidos que eram tratados como simplesmente subsistenciais.

Paralelamente temos a experiência de provar grandes vinhos, que em nada se distancia das experiências estéticas uma vez que o significado cultural por trás de uma garrafa pode ser igualmente transcendente e nos melhores casos, a experiência sensorial por si também proporciona intenso prazer.

Os objetos que carecem de significado são tidos como “funcionais” e seguindo a trilha, temos vinhos igualmente funcionais uma vez que podem apenas estabelecer sua premissa mais básica, sobretudo quando visto como um alimento.

No plano superior se tomarmos o exemplo de um grande vinho, como o Mouton-Rothschild, veremos que esta casa agregou valores vinculados à sua história, à consistência e perseverança de uma família que se propôs a elaborar um vinho que melhor representasse o valor de suas terras, compradas em 1853. O que se compra é mais do que uma garrafa de vinho, mas um produto final que guarda por trás de si uma tradição e o comprometimento com a qualidade máxima possível, o que pode ser quase comparado a um juramento hipocrático, ou seja, uma garantia de retidão e ética no exercício de seu ofício.

A experiência emocional de apreciação da arte pressupõe muito mais do que a familiaridade com os objetos retratados, mas com temas específicos e conceitos. A percepção da arte como tal pressupõe no apreciador uma habilidade individual bem fundamentada. A experimentação estética se baseia na consonância entre a intenção do autor e o conhecimento do apreciador. A arte não se auto-explica, mas é intuída, do contrário seria apenas o objeto funcional.

E enfim, depois de muito tempo de evolução, parece que a experimentação estética no campo dos vinhos está se disseminando e o melhor, graças a esforços intelectuais dos apreciadores, que acima das intempéries financeiras, se multiplicam. E por isso a arte, independente da origem do estímulo, segue sem preço.

André Logaldi é médico cardiologista, enófilo, diretor de degustação da ABS-SP, colaborador da revista Wine Style, revisor técnico de livros sobre vinhos.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

O Vinho e a Pintura! - Louis Le Nain


Mais uma obra de Louis Le Nain, um artista fantástico e pouco conhecido no Brasil.
Este quadro está no Museu do Louvre, em Paris.
Louis Le Naim era o mais novo de uma família de pintores da Picardia (França).

Fonte:www.papodevinho.blogspot.com

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Courmayeur Acclamé 2008


Mais um dos vinhos da vinícola Courmayeur, que produz diversos rótulos entre brancos, tintos e espumantes.

Este rótulo em especial, me chamou a atenção por ser produzido com a uva Marselan, uma casta de origem francesa, resultante do cruzamento das uvas Cabernet Sauvignon e Granache Preto.

O Vinho: Acclamé

Safra: 2008

Uvas: 100% Marselan

Comentários:
Na taça mostrou uma bonita cor rubi, translúcido e brilhante.Praticamente sem halo aquoso.

No olfato mostrou aromas de leves que lembravam frutas frescas, como goiabas e morangos e cerejas, com um toque refrescante de menta.

No paladar tinha um corpo leve, taninos macios e uma boa acidez, criando um conjunto equilibrado.

Na minha opinião, apesar de não ter muita complexidade, o vinho mostrou-se bem gastronômico e acompanhou muito bem uma macarronada.
Uma boa pedida para o dia a dia.

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Saurus Pinot Noir 2007

A Família Schoroeder sempre teve a fama de produzir bons vinhos na Patagônia Argentina.

Assim que encontrei esse vinho com um bom preço, não resisti e comprei uma garrafa para ver se oque diziam era verdade.
E para minha sorte, era.

Uma curiosidade com relação a este vinho, é que seu nome "Saurus" foi dado em homenagem aos fósseis de dinossauro encontrados na região da Patagônia Argentina.

O Vinho: Saurus

Safra: 2007

Uvas: 100% Pinot Noir

Comentários:
Na taça mostrou uma bonita coloração vermelho brilhante e translúcido com aura rosada.

No nariz apresentou aromas intensos que lembram frutas frescas com notas herbáceas e logo evoluindo para frutas em compota.

Na boca o vinho tinha um corpo leve com taninos redondos e uma acidez correta, que deixa a boca salivando esperando mais um gole.

Tem uma boa persistência com retrogosto frutado e deixou no fundo da taça aromas frutados com um toque defumado.

Na minha opinião este é um ótimo vinho, equilibrado e elegante.
Um vinho fino com um toque refrescante.
Vale a pena provar!

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Concurso Cultural Nosso Vinho

Concurso Cultural Nosso Vinho
Nosso amigo e confrade Paulo, do Nosso Vinho, criou um concurso cultural que vai premiar a melhor frase sobre o vinho com uma garrafa de Ca Marcanda Magari.
Por sorte do destino, a frase que enviei está entre as 5 finalistas e nesse momento peço a ajuda de todos vocês para tentar ganhar esse vinho.
Para me ajudar a ganhar o concurso, é só clicar neste link e votar na minha frase.
O processo é bem rápido, é só escolher a minha frase ( a última da lista ), clicar no botão "Submit Survey" e na próxima tela preencher o seu nome e e-mail e clicar novamente no "Submir Survey" para confirmar o voto.
A votação será encerrada no dia 18/10 às 18:00Hs e o resultado será publicado logo em seguida.
Desde já agradeço a todos que puderem ajudar!
Jean

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Muitos Domingos Depois - por Elmo Dias


Muitos Domingos Depois - por Elmo Dias

Firmino estava sentado na mesa apertada da copa, olhando sua mulher picar cheiro verde naquela tábua encardida e empenada, já patrimônio imprescindível e irritante da mesmice.

Mesmo sob protestos, conhecidos protestos, havia preparado uma caipirinha para si, e lia os classificados buscando um carro menos usado do que o seu, já bem usado.
Cacoete de domingo.

Eulália resmungou alguma coisa sobre a cunhada que tinha se separado, e Firmino ergueu os olhos apenas para não ignorar totalmente com o já automático “aham”.
De repente, encarou aquela bunda.

Ficou por uns segundos, submetido ao efeito dominó de suas emoções, olhando aquela bunda enorme apertada numa saia de tecido marrom, rumando da indiferença confortável até o estarrecimento.

Uma série torrencial de pensamentos se sobrepôs.

Deixou o jornal na mesa, largou o copo de caipirinha, enquanto parecia ouvir uma orquestra sinfônica executando, em fortíssimo, o ápice de uma ópera de Wagner.
Nunca havia caído em si daquele modo. Ficou ali, quase suspendeu a respiração, olhos vidrados.

Um insight feito por uma zarabatana com curare.

A bunda não se mexia muito. A tensão da saia, que punha à prova as suas próprias costuras, garantia certa firmeza.

Os quadris, contudo, tremelicavam um pouco, em contraponto à faca escorregando num vai e vem, desfiando a salsa e a cebolinha.

Firmino foi arremessado para a cena em que, depois do baile, ao lado da jaqueira no fundo do Clube Vera Cruz, havia pela primeira vez colocado as mãos na cintura de Eulália.

Ela de vestido tubinho, preto com branco, cabelo chanel, luvas de cetim, narizinho perfilado, o cheiro do pó de arroz e da água de colônia.

Puro viço sobressaltado, coraçãozinho de coelho.

Gestos rápidos, carótidas pulsando, o beijo que se fingiu ter sido roubado.
Trinta e quatro anos atrás, a bunda na sua frente era uma sentença de sua própria história.

Aquela bunda de outrora era nada mais que um belo e econômico estofo idealizado para sentar.

A bunda atual estava na mesma pessoa, mas agora dava a chance para Eulália sentar por três ou quatro dias sem sentir dor.

O derriére que estava na sua frente agora parecia uma poltrona embutida. Algo que garantia até que um tiro de AR 15 sequer provocasse sangramento.

O flashback lhe fez o calor correr a face, a caipirinha pareceu refluir na corrente sanguínea, querendo lhe sair pelos poros.

Sentiu uma louca necessidade de beber mais.

O vizinho ligou um rádio vagabundo e muito alto, que começou a tocar algum axé indecente.

Para horror de Firmino, o alho que começara a ser cortado agora pegou ritmo baiano, a bunda extra king size começou um rebolado discreto mas fatal, o que lhe horrorizou lhe fazendo quase fechar os olhos e gemer.

Gemeu mesmo, baixinho, enquanto levantava impulsivamente e ia até a sala, abrir o armariozinho branco que fizera embaixo da escada, e pegar uma garrafa do único vinho que tinha ali.

Guardado, às dúzias, um vinho sul africano que havia arrematado num leilão.
Odair, seu amigo que o levara ao leilão, ficou rindo muito depois que ele descobriu que eram sessenta garrafas de um vinho barato e sofrível.

Mas Firmino havia achado um motivo para tentar se refinar: pagou ao primo que era marceneiro para fazer a sua “adega”, embaixo da escada.

Pegou seu saca rolhas de supermercado, dilacerou a rolha, encheu três quartos de uma de suas taças de vidro grandalhonas e grosseiras.

Olhou para a cristaleira, o jogo desfalcado de copos lilazes e sua jarra de cristal, com motivos florais dourados.

A sopeira de porcelana chinesa com uns gatos feios, gatos que pareciam vesgos, gatos estrábicos que sempre lhe causaram um certo arrepio desgostoso.

Deu um gole enorme, quase engasgou.

O vinho quente, o álcool lhe subindo pelo nariz, babou um pouco na camisa amarela.
Lembrou do samba do Ary Barroso, das marchinhas do Lamartine Babo, e começou a rir sozinho.

Lembrou das micagens que fazia para Eulália enquanto dançavam Adoniran tocado pelos Demônios da Garoa.

O relógio de parede badalou meio dia, respirou fundo, tomou mais um gole sequioso, pegou a garrafa e voltou pra cozinha.

O axé, por bênçãos dos céus, havia parado.

Agora só ouvia o vizinho peludo e gordo cantando uma moda de viola antiga enquanto lavava o monza preto e fosco.

Evitou olhar a bunda.

Pegou novamente o jornal e enfiou o nariz nos classificados, sem qualquer capacidade de concentrar-se.

Quando Eulália falou alto, repetindo a pergunta de se ele havia acendido a churrasqueira, estava com os olhos fixos na seção de carros da Jaguar.

Respondeu que já ia fazer isso, e ao mesmo tempo riu de novo, agora frouxo, meio desconsolado.

Riu mais ainda quando fez foco com os olhos, e viu o preço de duzentos e cinquenta mil reais de um Jaguar usado num anúncio perdido em que seus olhos pousaram.

Abaixou o jornal, uma onda levemente ébria se espraiou por suas costelas.

Olhou para o pescoço e os ombros fofos da mulher, viu a correntinha de amarelo já envelhecido que havia lhe dado, pingente de golfinho.

Ela adorava golfinhos.

Eulália murmurou um trinado, afinada que era, com a voz de contralto. Dois pra lá dois pra cá, tentando até fazer as evoluções da Elis.

Cantarolou com leveza, num prazer tolinho de alegria aconchegante.

Virou, viu Firmino com a garrafa e a taça.

Imediatamente parou de cantar.

Firmino esperou a repreensão, esperou a implicância, a ralha.

Preparou-se para fazer sua conhecida cara de moleque insolente, não falar muito e prosseguir fazendo o que não devia.

Eulália olhou firme nos olhos dele, e para sua surpresa, voltou a cantar.

Quase solfejando, deu três passos movendo as enormes ancas na direção dele,.
Empurrou ele e sua cadeira pra trás, sentou no seu colo.

Pegou a taça, deu um belo gole e em seguida lhe beijou ao mesmo tempo mordendo sua orelha.

“Não tem vinho pra mim?”- perguntou, rindo, maciamente, entre a lascívia e a ternura maternal.

Firmino apertou a bunda enorme, beijou o pescoço de Eulália e depois lhe atacou com um beijo na boca, rindo e sentindo o calor do corpo maduro da mulher.

Wagner parou de tocar, Elis tomou o palco, e os dois cantaram juntos o refrão enquanto ele se levantava, dava um tapa estalado naquela bunda grande e ia até a sala buscar mais uma taça.

Sentiu uma culpa dura, pontuda, enquanto o tesão reverberava em seu corpo.
Foi desafinando até a cristaleira, a voz fanhosa. “eu hoje me embriagando, de whisky com guaraná…”

Sentiu-se etéreo, o calorão na nuca lhe fez esboçar um sorriso firme e satisfeito.
Voltou com a taça, e enquanto servia três quartos para Eulália, olhou de novo a bunda.

Trinta e quatro anos de boleros de João Bosco e um quadril tão grande quanto sua felicidade.

Elmo Dias é advogado civilista, presidente da Afavep, pescador, tenista, enófilo e cronista nas horas vagas (bem vagas)

terça-feira, 13 de outubro de 2009

O Vinho e a Pintura! - Pieter de Hoock


O quadro "Mulher Bebendo com Soldados" é de 1658 e está no Museu do Louvre, em Paris.
Pieter de Hooch, nasceu em Roterdam, na Holanda em 1629 e morreu em 1684 em Amsterdam em um asilo de doentes mentais.

Fonte:www.papodevinho.blogspot.com

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Terramater Vineyard Reserve Cabernet Sauvignon

Recentemente comprei algumas garrafas do pessoal lá do Empório Vinis, na cidade de Itatiba, onde fui atendido pela Mariana e acabei trazendo algumas garrafas dos vinhos chilenos produzidos pela TerraMater. Vale lembrar que comprei todas as garrafas sem provar antes, mas até agora os resultados foram muito bons.

Como já havia gostado muito do Sauvignon Blanc (relembre aqui), logo achei uma oportunidade para abrir mais uma garrafa.

Desta vez escolhi um vinho da linha intermediária, chamada de Vineyard Reserve que é a linha logo acima da básica Paso Del Sol, mas ainda abaixo da Limited Reserve e da top Altum.

O Vinho: Terramater Vineyard Reserve

Safra: 2006

Uvas: 100% Cabernet Sauvignon

Comentários:
Na taça apresentou uma cor rubi profundo, levemente translúcido e com aura levemente marrom, mostrando alguns sinais de envelhecimento..

Os aromas de média potência lembravam frutas em compota, ameixas e goiaba fresca com notas herbáceas e de baunilha.

Na boca é redondo, com corpo médio, taninos macios e uma acidez corretíssima para acompanhar uma macarronada de domingo.

Deixou no fundo da taça aromas predominantemente de baunilha ou algum doce com baunilha e um toque de fumaça.

Para o meu paladar este é um ótimo vinho, bem equilibrado e macio.
Fiquei surpreendido com a qualidade desta linha intermediária e já estou curioso pra ver como serão os dois da linha Limited Reserve que tenho aqui.

Vale a pena provar!

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Quer saber mais sobre o Jerez?

É uma das mais famosas regiões vinícolas da Espanha, situada ao sul de Sevilla, mais precisamente próxima da costa atlântica, nas cercanias das cidades de Jerez de la Frontera, San Lúcar de Barrameda e El Puerto de Santa María, próximas a Cadiz.

O método de elaboração O Jerez, como o vinho do Porto, é um vinho fortificado, isto é, que recebe a adição de aguardente vínica, tornando-se mais alcoólico e "mais forte".
No Porto a aguardente é adicionada durante a fermentação, interrompendo-a e originando um vinho doce, enquanto no Jerez ela é adicionada após a fermentação ser concluída, dando um vinho seco.

O aroma e gosto especiais e únicos do Jerez se devem à uva, ao método de elaboração específico e ao envelhecimento pelo sistema de “solera” que comentaremos mais à frente.

O Jerez sempre é um corte (mistura) de vinhos de vários anos diferentes e não de uma só safra.
O Jerez é envelhecido pelo sistema original: o sistema Solera, onde são utilizados barris de carvalho americano, denominados botas, com capacidade para 600 litros, cheios até 5/6 de sua capacidade.

Enquanto em outras regiões vinícolas os barris são hermeticamente fechados, em Jerez eles são abertos para permitir que o vinho seja airado pela brisa do sudoeste.
Terminada a fermentação alcoólica e esgotados os açúcares do mosto, as leveduras sobem até a superfície e formam uma película, o velo de flor (véu de flor) ou simplesmente flor de Jerez.

Esses microorganismos permanecem na superfície do vinho, e aí, na presença do oxigênio do ar, transformam alguns componentes do vinho. Esse processo de intensa e contínua ação metabólica das leveduras da flor denomina-se crianza biológica e, na realidade, é um envelhecimento biológico do vinho, e confere as características organolépticas (sensoriais) únicas do Jerez.

As botas são colocadas em, pelo menos, três fileiras superpostas. A primeira, a solera, colocada no chão, contém o vinho mais velho pronto para ser engarrafado e as que estão sobre ela denominam-se criaderas. A quantidade de vinho que é retirada da solera é reposta com o vinho da fileira logo acima, a primeira criadera, que por sua vez é completada com o vinho da fileira superior, a segunda criadera e assim por diante, até a criadera superior (mais jovem) que é preenchida com o vinho mais novo daquele ano.

Existem oito tipos principais de Jerez, a saber:

Fino - é pálido da cor da palha, seco, com um aroma delicado de torrefação e de nozes, seco e leve no paladar e envelhecido sob a "flor". Deve ser servido ligeiramente gelado.

Manzanilla - é um Fino muito seco, exclusivo das bodegas de Sanlúcar de Barrameda, onde é envelhecido sob a "flor". Possui as características do Fino, acrescidas de aroma e gosto da brisa marítima que existe nas bodegas de Sanlúcar. Também deve ser servido ligeiramente gelado.

Amontillado - tem cor âmbar, é seco, envelhecido e tem aroma de nozes, porém mais intenso e mais fresco do que os dois anteriores. Na boca é mais macio e encorpado.

Oloroso – seco, às vezes doce, envelhecido, encorpado, da cor âmbar do mogno e, como o seu nome sugere, seus aromas são fragrantes e intensos e lembram também a nozes.

Palo Cortado – seco, envelhecido, muito pouco produzido.

Pale Cream - de cor de palha bem pálida e com aromas de torrefação é macio e doce no paladar.

Pedro Ximenez – doce produzido por poucas vinícolas, equivale ao tipo anterior.

Cream - é um Oloroso muito doce feito com a uva Pedro Ximenez. Tem cor de mogno bem escuro e aromas de torrefação intensos e delicados. No palato é bem doce, redondo, aveludado e bem encorpado.

Fonte:http://www.enoteca.com.br/index.php?id=31821

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Adega Chesini Gran Vin - por André Logaldi


Este é um vinho produzido no Rio Grande do Sul pela Adega Chesini (http://www.adegachesini.com.br/ ), que gentilmente nos cedeu duas amostras do seu vinho top para que pudéssemos conhecê-lo.

Seguem abaixo os comentários do André sobre ele.

Um vinho de coloração intensa, ainda muito jovem no aspecto visual, rubi violáceo concentrado, lágrimas fartas que tingem as bordas da taça.

No exame olfativo, de intensidade média, predominam aromas de frutas maduras (escuras), algo de especiarias e notas empireumáticas leves, mais próximas de tons lácteos do que tostados, nuances de chocolate e ervas secas.

Na boca, deveria se esperar um vinho tão concentrado quanto na cor, mas tem uma estrutura relativamente leve, corpo leve-médio, média acidez, o álcool de impressionantes 14%, sobra um pouco. Estrutura tânica também de média intensidade, textura agradável, de ataque macio e leve secura final. Deixa um retrogosto de frutas maduras e tem uma persistência curta-média.

O vinho passa em maturação em barricas de carvalho, mas sem menção do tempo, inclusive no site da empresa, de Farroupilha.

O vinho não tem estrutura suficiente para suportar longa guarda, provavelmente não mais do que 6 anos, embora a análise de uma única garrafa não seja um parecer definitivo.

Em linhas gerais, se mostra muito rico em cor, razoável complexidade olfativa e estrutura de boca marcada por leve desequilíbrio alcoólico e falta de melhor expressão de fruta, acidez e taninos. Minha descrição não dever ser tomada como um indicador de falha, sobretudo na acidez, que muitas vezes pode se mostrar correta ao verificarmos o pH, mas no equilíbriop geral o álcool saliente pode causar esta impressão de acidez, não necessariamente baixa, mas insuficiente.

Não tenho dados técnicos para tentar decifrar os eventuais méritos ou falhas de vinificação, se o álcool atingido foi por meio de chaptalização ou não.

O vinho tem uma boa apresentação geral, com uma bela garrafa, capricho no rótulo e na rolha. Não tenho o preço, mas dependendo do valor pode ser uma boa opção de mercado.

Aproveitei para analisá-lo sob a ótica gastronômica e ele se mostra um vinho agradável e apto para harmonizações com pratos de peso mediano e alguma untuosidade até (o que pode indicar que a acidez não é tão baixa, mas o álcool que é mesmo muito).

Se alguém ficar curioso com relação à uma nota, a minha seria 83-84.
Num resumo final, o vinho me parece no limite das possibilidades da casta em território brasileiro, que gera vinhos que não devem e nem podem ser muito melhores do que este. Me parece que os cuidados de vinificação foram adequados, com as limitações relacionadas antes à casta e ao terroir do que propriamente do trabalho do enólogo.

Não os conhecia e acho que vale a pena prestar atenção à família Chesini daqui para diante. A tendência natural deve ser melhorar.

Este vinho me lembra muito alguns vinhos espanhóis do tipo “Joven” ou “Roble” com breve passagem em barricas e justamente como este exemplar nacional, ricos e concentrados em cor, madeira discreta e paladar de média intensidade, frutados porém faltando uma estrutura mais sólida. Se a intenção deste vinho for relativamente modesta, ele pode ser considerado um ótimo vinho, mas se a idéia é ou foi fazer um vinho premium, ele deixa a desejar, repito: não por descuido, mas pelas limitações de terroir.

Sem dúvida é uma empresa séria e confiável. Erros e acertos são inerentes ao desejo e continuidade do trabalho.

André Logaldi é médico cardiologista, enófilo, diretor de degustação da ABS-SP, colaborador da revista Wine Style, revisor técnico de livros sobre vinhos.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

O Vinho e a Pintura! Santa Ceia

Esta pintura está na igreja de Sant´Angelo, em Capua (Itália). Foi pintado no ano de 1100, por um mestre bizantino desconhecido. É a Santa Ceia antes de Da Vinci.

Fonte:www.papodevinho.blogspot.com

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Courmayeur Espumante Moscatel

Este aqui é mais um dos vinhos que adquiri da Vinícola Courmayeur.

Como já havia acontecido com o Reserva Merlot, este aqui também foi um vinho que valeu a pena comprar.

O Vinho: Courmayeur Espumante Moscatel

Safra: 2008

Uvas: 100% Moscatel

Comentários:
Na taça apresentou uma cor amarelo palha , límpido e com uma perlage fina e constante.

Aromas de boa persistência que lembravam abacaxi, maracujá e mel, com um toque cítrico.

Na boca é doce, mas sem ficar enjoativo, lembrando pêssegos em calda com um final bem cítrico.
Muito bem equilibrado.

Na minha opinião este é um ótimo espumante, perfeito para quem não gosta dos vinhos Brut ou Extra Brut.
Muito bom para abrir em um dia de calor.
Se voce ficou interessado pode comprar diretamente do setor de vendas da vinícola.

sábado, 3 de outubro de 2009

Miolo Seleção Tinto 2008



Novamente atrasado, mas desta vez não foi tanto........

Este é o vinho do mês de Outubro da Confraria Brasileira de Enoblogs, escolhido pelo nosso confrade Laércio, do blog Avaliador de Vinhos.

Ao que parece, a escolha deste vinho foi motivada pelas mudanças realizadas nesse vinho na safra 2008.

A primeira grande alteração visível foi o rótulo. Onde antes havia o antigo rótulo já conhecido por todos com seus detalhes monocromáticos em cinza, agora temos um rótulo totalmente repaginado em preto e vermelho, destacando a nova composição do corte.

O Vinho: Miolo Seleção Tinto

Safra: 2008

Uvas: Cabernet Sauvignon e Merlot

Comentários:
Cor rubi levemente translúcido, praticamente sem aura.

Aromas de boa potência que lembram ameixas, goiabas, frutas em compota com toques de amêndoas e menta.

Na boca apresentou corpo médio com taninos leves mas ainda presentes, uma acidez dentro do padrão normal e que no geral deixou o vinho equilibrado.

Um fundo de taça com aromas de frutas e defumado completaram o conjunto.

Confesso que particularmente fiquei surpreso, de forma positiva, com essa nova versão do Miolo Seleção. O vinho me agradou bastante, bem equilibrado e se mostrou um vinho justo para se beber no dia a dia.

Uma ótima surpresa do nosso amigo Laércio. Parabéns!

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Courmayeur Espumante Chardonnay Brut

Este aqui é o terceiro entre os 6 que adquiri da Vinícola Courmayeur.

Neste caso é um espumante brut, produzido predominantemente com uvas Chardonnay e uma pequena parte de Pinot Noir, utilizando o método Charmat.

O Vinho: Courmayeur Espumante Chardonnay Brut

Safra: 2008

Uvas: 100% Chardonnay

Comentários:
Na taça apresentou uma cor amarelo palha com reflexos esverdeados e uma perlage de tamanho médio, não tão fina quanto os espumantes anteriores.

Aromas de boa persistência que lembravam frutas verdes, algo de tostado com um final levemente adocicado.

Na boca é bem seco, refrescante, com corpo bem leve e com uma acidez pronunciada, mas com uma persisência um pouco menor que os outros espumantes do mesmo produtor.

Deixa um leve amargor no final da boca.

Na minha opinião este é um bom espumante nacional, perfeito para quem gosta de vinhos Brut com um bom custo x benefício e pode ser adquirido diretamente no setor de vendas da Courmayeur.